INTER-RELAÇÃO ENTRE A ODONTOLOGIA E A FONOAUDIOLOGIA NA MOTRICIDADE ORAL
NTER-RELAÇÃO ENTRE A ODONTOLOGIA E A
FONOAUDIOLOGIA NA MOTRICIDADE OROFACIAL
Interrelation between Odontology and Speech- Language
Pathology in Orofacial Myology
Everton Costa Amaral (1), Stella Maris Cortez Bacha (2), Eloisa Lorenzo Azevedo Ghersel
Priscylla Mayumi Ikeda Rodrigues (4)
RESUMO
Objetivo: abordar aspectos da inter-relação entre a Odontologia e a Fonoaudiologia na Motricidade Orofacial. Métodos: foi realizada pesquisa na forma de questionário dirigido a 49 cirurgiões-dentistas especialistas em Ortodontia/Ortopedia Facial e 40 em Odontopediatria, bem como a 14 fonoaudiólogas especialistas em Motricidade Orofacial, todos de Campo Grande/MS. Resultados: houve unanimidade na opinião dos pesquisados em relação à necessidade da interação entre as áreas, sendo o Sistema Estomatognático o campo comum de atuação desses profissionais. Os motivos de encaminhamentos para tratamento fonoaudiológico estão mais relacionados às questões funcionais, mas há,
supostamente, resistência tanto dos pacientes quanto dos cirurgiões-dentistas em encaminhar e/ou consultar o fonoaudiólogo; e os casos de recidivas ortodônticas, na sua maioria, são decorrentes da falta de acompanhamento fonoaudiológico. Conclusão: existe trabalho integrado do cirurgião-dentista e do fonoaudiólogo, mesmo que ainda sejam necessários ajustes quanto aos critérios de alta em
conjunto e de julgamento das recidivas. O trabalho em equipe continua sendo um caminho para a integração destes profissionais visando o tratamento adequado do paciente.
DESCRITORES: Odontologia; Odontopediatria; Ortodontia; Fonoaudiologia; Sistema
Estomatognático
■ INTRODUÇÃO
Ao iniciar o exercício de sua atividade, o profissional assume responsabilidades irreversíveis diante da sociedade como um todo, perante os pacientes e colegas de profissão. No entanto, a eficácia dos tratamentos, com a constante evolução e velocidade da
divulgação de conhecimentos, depende, muitas vezes, do trabalho em equipe 1.
Há muitos anos se fala da importância de interrelação profissional e da necessidade de se trabalhar em conjunto. Acredita-se que essa idéia é decorrente da conscientização dos profissionais em relação às possibilidades e limitações de suas especialidades e por isso, buscam ajuda em outras, para melhor tratar seu paciente. O significado da palavra parceria é reunião de pessoas para um fim comum. Na parceria Odontologia e Fonoaudiologia a meta é a resolução dos problemas das pessoas que procuram o tratamento, especificamente,
do sistema estomatognático. A terapia miofuncional (orofacial e cervical) é útil em muitas especialidades odontológicas e visa à correção das alterações motoras e sensoriais do sistema estomatognático, das funções de respiração, sucção, mastigação, deglutição e fala, quando alteradas. Na Ortodontia, os dentes são mantidos em equilíbrio graças à atuação de forças de contenção interna e externa mutuamente, e, portanto, se não houver ajustes funcionais, existe a possibilidade de recidivas. Na Odontopediatria, o trabalho em equipe é presente nas ações preventivas, especialmente no controle dos hábitos deletérios, incluindo desde a conscientização da necessidade da amamentação para o desenvolvimento
da sucção até a intervenção na respiração oral .
Na Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, a intervenção fonoaudiológica pode ser vista nos períodos pré e póscirúrgico da cirurgia ortognática, atuando sobre as alterações da motricidade orofacial (e cervical). A pressão incorreta da língua contra os dentes pode comprometer
a saúde do periodonto, demonstrando a ação da terapia junto à Periodontia. Além disso, existe também o trabalho em equipe na Reabilitação Oral, por
meio de ajustes de mastigação e disfunções da articulação temporomandibular (ATM), bem como na musculatura para-protética e até mesmo, na estética 1.
A Motricidade Orofacial é, portanto, o campo da Fonoaudiologia voltado para o estudo/pesquisa, prevenção, avaliação, diagnóstico, desenvolvimento, habilitação, aperfeiçoamento e reabilitação dos aspectos estruturais e funcionais das regiões orofacial e
cervical 3.
Há como se mostrar a correlação entre a Odontologia – em especial a Ortodontia e a Ortopedia Funcional dos Maxilares – e a Fonoaudiologia, por meio do estudo das funções reflexo-vegetativas orais de respiração, sucção, mastigação e deglutição, funções
que constituem o elo de ligação entre essas atividades profissionais. Para a Fonoaudiologia, tais funções são consideradas pré-lingüísticas e para a Odontologia são funções responsáveis pela estabilidade dos dentes e suas inclinações axiais corretas. Toda a musculatura é interligada. Os músculos da cabeça se relacionam com os do corpo todo, até mesmo com os músculos dos pés. O respirador oral pode ter várias alterações posturais, apresentando até uma tendência a “pés chatos”. Portanto, uma correção ortodôntica só pode manter-se adequada se a oclusão alcançada ao final harmonizar-se com a musculatura do paciente 4. É importante o trabalho em equipe nas disfunções do sistema estomatognático, especialmente na respiração oral, cujo tratamento normalmente envolve quatro especialistas: ortodontista/ortopedista facial através do acompanhamento do desenvolvimento crânio- facial e correção das alterações oclusais; fonoaudiólogo através da terapia miofuncional, reeducando diversas funções; otorrinolaringologista com o diagnóstico e tratamento das etiologias das disfunções nasofaríngicas; e o fisioterapeuta que corrige os distúrbios corporais. Portanto, no tratamento de pacientes portadores de distúrbios respiratórios o ideal é estimular a atuação multidisciplinar que envolva condutas
de prevenção e tratamento precoce 5. Uma revisão de literatura voltada para a interação
entre Odontopediatria e Fonoaudiologia enfocou a remoção dos hábitos orofaciais deletérios – sucção digital, sucção de chupeta, deglutição atípica e respiração oral. Com a variedade dos fatores desencadeantes e das características desses hábitos, torna-se fundamental a necessidade da atuação interdisciplinar entre o odontopediatra e o fonoaudiólogo, pois os mesmos visam à manutenção das estruturas orais e suas funções. Concluiu-se que para que haja tal integração é fundamental que esses profissionais tenham conhecimento das funções
estomatognáticas assim como as alterações, causas e prejuízos morfofuncionais. O sucesso do tratamento depende do diagnóstico e intervenção precoce, juntamente com a realização de programas preventivos durante o desenvolvimento da criança 6. Uma pesquisa na forma de questionário envolvendo odontopediatras, ortodontistas, fonoaudiólogos, pediatras e psicólogos abordou os hábitos orais de sucção não-nutritiva, dedos e chupeta. Após a análise dos dados concluiu-se que o aleitamento materno é o melhor método de prevenção de hábitos orais deletérios, e que apesar desses hábitos serem a problemática comum desses profissionais, existe pouca interação entre as especialidades, comprometendo,
dessa maneira, o sucesso na prevenção e tratamento desses casos 7. Outra pesquisa analisou a interação entre fonoaudiólogos e cirurgiões-dentistas através de um questionário respondido por 52 profissionais, dentre as especialidades de Odontopediatria, Ortopedia Facial, Ortodontia, Periodontia e Cirurgia Buco-Maxilo- Facial que atuam na capital sul-matogrossense. Os resultados mostraram que os cirurgiões-dentistas costumam encaminhar pacientes, com freqüência, para avaliação fonoaudiológica, demonstrando a existência de relativa interação entre os dois profissionais, e com trocas de informações ao longo do tratamento.
A despeito, existe em muitos casos, falta de conhecimento sobre quais casos necessitam de intervenção fonoaudiológica e o momento apropriado para a realização da mesma. Destacou-se a ineficiência na divulgação do trabalho fonoaudiológico por parte da classe, sendo necessária maior divulgação da técnica, a fim de que se estabeleça diálogo franco entre cirurgiões-dentistas e fonoaudiólogos, culminando no aperfeiçoamento profissional 8.
Também pesquisando a interação entre profissionais, avaliou-se a interação da Fonoaudiologia com a Ortodontia e a Odontopediatria, através da aplicação
de um questionário direcionado a ortodontistas e odontopediatras, da cidade de Anápolis (GO). O questionário, com perguntas abertas teve como objetivo avaliar a inter-relação entre as especialidades e a indicação de pacientes à Fonoaudiologia, por parte dos cirurgiões-dentistas. Os profissionais responderam que sabem o que é Fonoaudiologia e que indicam pacientes para a terapia fonoaudiológica em diversos casos. Porém, baseadas nas respostas, as autoras concluíram que o papel da Fonoaudiologia nas especialidades
odontológicas ainda não se encontra totalmente definido 9.
O trabalho em equipe deve se embasar nos “4C”: coerência, comunicação, compreensão e coordenação. O modo de trabalhar necessita ser aberto e de correto estilo profissional. Assim, a relação com os profissionais deve ser clara, precisa e ampla, para se evitar equívocos, erros ou retrocessos, pois trabalhar em equipe é enfrentar um problema comum a várias especialidades em que são enfocados diferentes pontos de vista, visando o benefício do paciente. Alguns fatores caracterizam a estreita inter-relação entre a
Odontologia e a Fonoaudiologia, como o caráter anatômico, por ser a boca o órgão da mastigação e da fonação, e o caráter funcional, baseado na correspondência entre a forma e a adaptação 10.
A riqueza de um trabalho interdisciplinar, além de se buscar um objetivo comum, está também condicionada aos níveis de conhecimento e experiência das pessoas especialistas da equipe e isto é importante porque permite comparar conhecimentos, fortalecendo
a idéia de que estes são transitórios, questionáveis e necessitam ser debatidos. Mas esta
prática não é fácil 11.
Apesar de haver, muitas vezes, o uso indiscriminado de termos como equipe
multidisciplinar, interdisciplinar e outros, sugere-se o uso de Equipe ou Trabalho Multiprofissional quando do trabalho em equipe com profissionais de outras áreas, pois cada profissional desta equipe tem distintas especialidades, mas nem sempre com interesse
comum. Quando houver o interesse comum, visando a um mesmo objetivo, será uma Equipe Interdisciplinar 12. Foi realizado um estudo longitudinal envolvendo 18 crianças portadoras de deglutição atípica, com idade média de 9,5 anos. A amostra foi dividida em 2grupos. No grupo A foi realizada terapia miofuncional associada à mecânica ortodôntica, e o grupo B submetido apenas ao tratamento ortodôntico, que consistia no uso de placa reeducadora e placaimpedidora, com a finalidade de corrigir os padrões e
alterações de posicionamento lingual. Analisou-se o índice de recidiva de deglutição atípica após 3 anos, verificando que houve um comportamento semelhante entre os grupos. A recidiva ocorrida foi em apenas um paciente do grupo B, mas esta não pôde ser relacionada à técnica de tratamento utilizada, porém os autores concluíram que, em termos gerais, a terapia
miofuncional associada ao uso das placas ortopédicas forneceu melhores condições para mudanças na deglutição, tanto em posição de repouso quanto na realização da função.
(...)
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https://www.revistacefac.com.br/revista83/artigo09.pdf